Day -1: (Mais ou Menos) Prontos para Largada

17 Jul 2015

 

Os últimos dias de preparação não foram diferentes dos anteriores. Com muita coisa para resolver e pouco tempo, precisamos priozar o que fazer. Essa não foi uma decisão difícil, não há nada mais importando do que o som no carro. Uma aventura sem trilha sonora não é uma aventura. Obviamente, seguindo o esprito pão-duro do rali, não nos contentamos com simplesmente passar na primeira loja e comprar algo que atendesse nossas necessidades. Gastamos metade de um dia passando por todas lojas ao redor até que alguém, cansado de barganhar, nos deu um desconto “significante” em troca de um pequeno adesivo no carro. Perfeito! Finalmente podemos escutar uma música enquanto não escutamos o carrinho de compras cair do teto do carro.

Falando em cair do teto, sentimos falta de um dos galões da gasolina (que com certeza iremos precisar). Ainda não sabemos se esquecemos ele em algum lugar enquanto estávamos tentando fazer com que todo equipamento entrasse no carro, se algém no caminho resolveu se que seria interessante nos livrar do peso extra, ou simplesmente voou do carrinho em alguma estrada remota. Provavelmente nunca iremos saber o que aconteceu, mas onde quer que esteja, fique bem galão de gasolina vermelho número 2.

O carrinho também está tendo o efeito esperado no público. Por todo lugar em que passamos, tempos pessoas parando para tirar foto, abanando, gritando e até tivemos um grupo de fãs nos seguindo até o hostel para perguntar o por quê do carrinho. Isto tudo sem pintura ou adesivo algum no carro ainda!

Outra tarefa importantíssima que tivemos que realizar foi comprar tinta para a “decoração” do carro. Não seria um carro do Mongol Rally sem isso. Devido ao nosso senso de estética apurado, optamos por tintas verde limão e amarelo, as cores do verão na Europa. Ainda não tivemos tempo para pintar, mas nada que um pequeno pit stop no caminho não resolva!

Algém nos falou que seria interessante levar um estepe na viagem. Como não entendemos muito disso, resolvemos seguir o conselho. E por que simplesmente ir à uma loja e comprar o estepe, quando podemos dar uma volta em um ferro-velho e procurar um Micra destruido e aproveitar uma roda em “perfeita” condição. Aparentemente o dono do ferro-velho não gostou muito da nossa presença e muito menos das cameras, e não liberou a filmagem. Não consigo imaginar o por quê! Depois de uma volta e uma longa discussão sobre o preço, conseguimos um estepe levemente menor do que o tamanho das nossas rodas, mas que teoricamente, repito, teoricamente, deve servir. Vamos descobrir mais adiante!

Seguindo a mesma linha de pensamento, também aproveitamos e pegamos algumas peças sobressalentes, como filtros, lâmpadas e óleo. Just in case! Alguém também comentou que alguns equipamentos de segurança eram necessários para trafegar em alguns países na Europa. Aparenteente até um bafômetro é necessário na França (isso diz muito à respeido dos Franceses). Além disto, extintores de incêndio e coletes de alta visibilidade entre outras coisas. Ainda não sei por que precisaríamos de coletes de alta visibilidade quanto possuímos um carrinho de compras soldado no teto do carro!

A nossa nova suspensão, a única alteração que resolvemos fazer no carro, chegou diretamente da Alemanha na casa do Russ e finalmente conseguimos pegar as caixas. Resolvemos trocar a suspensão original por amortecedores levemente melhores, pressurizados à gás, e molas da versão diesel do Micra. Aparentemente mais da metade dos abandonos é causado por problemas na suspensão que não puderam ser consertados. Ainda não conseguimos instalar a nova suspensão, mas deve ser trivial, não?

No lado da papelada, todos vistos finalmente chegaram! Os vistos do Uzbequistão e Tajiquistão do Igor, que precisaram ser processados com urgência, chegaram no último dia antes da partida para Goodwood. O meu visto do Iran finalmente chegou depois de um bom susto. A aplicação juntamente com o passaporte, que tinha todos meus vistos, sofreu um pequeno atraso na entrega. O correio tentou entregar o passaporte na embaixada em um Sábado. Obviamente a embaixada estava fechada. Até ai tudo bem, teoricamente deveriam tentar novamente na Segunda. Segunda, Terça, Quarta passou e nenhuma tentativa de entrega. Depois de diversas ligações e horas esperando, consegui abrir uma investigação para tentar entender o que aconteceu e enviar uma nota para o correio local. Nenhum update por dois dias mas na Sexta, tudo foi entregue (ou pelo menos foi o que o tracking informou). Se passaram duas semanas e comecei a ficar mais preocupado. O processamento deveria demorar em média uma semana. Fiquei ainda mais preocupado quando fui verificar o status da aplicação e não tinham registro do meu passaporte. Depois de tentar enviar alguns emails para embaixada sem sucesso, consegui, depois de esperar um bom tempo, falar com um atendente. Mal conseguimos nos entender, mas depois de alguns minutos de muita tensão, procurando meu passaporte que estava provavelmente espalhado pela embaixada, o atendente finalmente conseguiu encontrá-lo. Ufa! Iriam me enviar no dia seguinte! Tudo perfeito. Passaporte chegou e todos vistos intactos e corretos!

Além do Iran, o último visto que talvez fosse necessário era para o Kazaquistão. Este caso estava um pouco nebuloso por quê em 2014 o governo do Kazaquistão implementou um programa onde cidadãos de alguns países, incluíndo a Alemanha que é meu caso, não precisariam de visto. O único detalhe é que o programa seria finalizado dia 15 de Julho de 2015, pouco antes da largada. As notícias diziam que o programa foi um sucesso, aumentando o número de visitantes, e seria renovado, mas nenhuma confirmação oficial. Foi um jogo de espera. Enviar a solicitação de visto e garantir a entrada, ou esperar e ver o que aconteceria com o programa. Por pura sorte, alguns dias antes do programa expirar, o presidente do Kazaquistão anunciou que o mesmo seria renovado. Inicialmente não conseguimos confirmação oficial, mas depois de tentar algumas vezes, conseguimos falar com a embaixada e confirmar a notícia! Um visto a menos!

Ainda do lado da papelada, tentamos autenticar a carta de autorização para cruzar fronteiras com o carro que está no nome de um integrante, caso o mesmo não esteja presente. Sempre é possível que esquecer alguém, propositalmente ou não, e isto não pode nos atrasar! Depois de passar em 3 cartórios e descobrir que eles não fazem este tipo de coisa, finalmente achamos um notário publico para autenticar a carta. Queria um absurdo de 40 libras. Pensem quantas cervejas conseguimos comprar por isto. Esquecemos a carta e caso necessário, vamos ter que subornar alguém na fronteira.

Aparentemente a Carta Verde do seguro foi resolvida. Pela primeira vez no planejamento desta viagem, algo foi simples de resolver. Simplesmente ligamos para seguradora, que ficou que enviar a Carta Verde para o endereço do Russ e nos enviou um link para baixar e imprimir uma versão temporária. Só esquecemos de perguntar se precisava imprimir em papel verde! Ainda no lado das coisas que funcionaram, a carteira de motorista internacional (IDP) foi realmente simples e rápida para tirar. Um formulário simples, uma taxa básica e duas fotos, o problema estava resolvido em alguns minutos na AAA.

Depois de trafegar dias sem pagar o imposto do carro, e somente um dia para sair da Inglaterra, ainda sem saber como pagar o mesmo, decidimos esquecer esse assunto e seguir com as preparações. Acreditamos que o valor cômico do carro e uma boa dose de desculpas nos livrará de uma multa caso formos parados pela polícia.

 

Aproveitamos a ultima noite para finalmente dar uma passeada pelo centro de Londres. Rodrigo e o Matheus ainda não conheciam. O Rodrigo também saiu à procura de um drone. Passou em uma, duas, várias lojas. Olhou, namorou e acabou não comprando. Uma coisa a menos para acertar o carro em movimento! No último minuto também conseguimos acertar os adesivos para o carro! Eles ainda estão em Bracknell, umas duas horas de Londres, mas outro rallier já retirou e vai nos trazer e entregar todos em Goodwood!

Na Sexta-Feira também finalmente recebi minha carta de convite (LOI) para o Turcomenistão. Turcomenistão é um dos países mais fechados para visitantes. Para conseguir um visto de turista, é necessário um guia, que não é barato. Outra opção é um visto de trânsito, que dá a visitantes em passagem pelo país, 5 dias para cruzar o mesmo. Um pequeno detalhe, os dias devem ser exatos e somente é possível solicitar o mesmo poucos dias antes de necessitá-lo, e mesmo assim, é preciso esperar aproximadamente uma semana para obter a mesma. O Igor vai fazer isto, aplicar para a carta no consulado na Turquia, e, com um pouco de sorte, retirar a mesma no Iran, pouco antes de cruzar para o Turcomenistão. Eu tentei outra rota, um pouco mais flexível. Uma empresa na Inglaterra tem acesso “especial” ao consul em Londres e consegue uma carta de convite mais flexível, onde a mesma é valida para qualquer dia e os 5 dias começam a contar a partir da fronteira, onde o visto é emitido. Um detalhe, a aplicação para a mesma deveria ter sido feita em Abril. Com sorte, consegui enviar toda documentação necessária para Inglaterra a tempo e desde lá, estou esperando. Comecei a me preocupar algumas semanas antes da largada. Não tinha update algum e quando questionava o status, a resposta era sempre a mesma, “estamos esperando a confirmação do consulado”. Quando o pavor estava batendo o extremo, já que não tenho outra opção além disto, recebi a carta. No último minuto, na Sexta-Feira. Incialmente estava tudo Ok. Meu nome e número de passaporte estavam Ok. Perfeito! Não foi até somente algumas horas para largada que notei que a rota, incluíndo as fronteiras de entrada e saída estavam erradas! O trajeto mencionado na carta era vindo da balsa, em Turkmenbashi, e não cruzando a fronteira com o Iran. A carta é bem específica e os locais que podem ser visitados no país são controlados. Caso nos encontrem em algum lugar fora desta rota, teremos problemas sérios, aquele tipo que envolve grades. Também provavelmente não poderei nem entrar no país, já que a fronteira que é mencionada na carta é diferente da que vamos entrar. No mesmo momento tentei entrar em contato com a empresa para tentar resolver isto, mas sem sorte. Já haviam fechado. Primeira coisa à resolver na Segunda!

No final, por falta de tempo, deixamos de fazer várias coisas que haviamos planejado, como instalar um snorkel e luzes de rally no carro, bateria maior e alguns documentos que possívelmente seriam úteis. Ainda não sei se isto foi bom ou ruim. Se isto nos obrigar a abandonar, não será o ideal, mas se gerar alguma confusão e histórias para contar, será a melhor dicisão que tomamos! Com certeza existem times bem mais (e outros bem menos) preparados. Acho que temos uma chance de chegar, mas somente vamos descobrir no caminho!

Um agradecimento aos nossos novos apoiadores, Anderson Cougo, Vanessa Fernandes de Carvalho, Anelise Spier Borges e Mariane Spier Weber, que contribuiram para nossa campanha!

Não deixe de contribuir! De quebra, você ainda pode escolher recompensas super legais, como cartões postais da viagem, camisetas, álbum de fotos e ainda enviar alguns desafios para equipe!

 

Site da Campanha

 

Contribua e compartilhe! Todas contribuições serão doadas para as instituições de caridade!